A decisão deve ser feita em conjunto com o pediatra, mas às vezes mesmo se os pais já tiverem positivo para a doença pode ser importante examinar o pequeno.
Embora as crianças geralmente sejam menos afetadas pelo novo coronavírus, é inevitável a preocupação com a saúde do pequeno, principalmente se outra pessoa que estiver convivendo de maneira próxima dentro de casa apresentar sintomas para a doença.
Neste caso, sabemos que o procedimento padrão é testar o adulto e proceder com o isolamento de ambos. Mas eis que surge a dúvida: por ser um teste tão incômodo e desconfortável já para os mais velhos, será que é melhor assumir que, se os pais tiverem o positivo, o filho também contraiu a covid-19?
1. Existe a suspeita… O que fazer primeiro?
De fato, realizar ou não o exame no pequeno é algo a se por na balança – e mesmo os profissionais da área têm tomado condutas diferentes, como conta Melissa Palmieri, infectologista do Grupo Pardini e especialista em vigilância em saúde pelo Ministério da Saúde.
“Muitos pediatras usam o critério clínico e epidemiológico para fazer o diagnóstico de covid-19 nas crianças, avaliando os sinais da infecção. Isso é uma decisão individual que deve ser discutida com a família, então não existe certo e errado – e sim o esclarecimento de que, estando os pais positivos e a criança apresentando sintomas, é muito provável que seja um caso da doença”, explica.
No entanto, ela deixa claro que apenas o diagnóstico laboratorial é capaz de afirmar com certeza, sem falar da sua importância para documentar se o pequeno realmente foi infectado e para notificar as pessoas que podem ter tido algum contato com o vírus também.
2. Vamos testar: veja qual o procedimento indicado
Como os médicos já enfatizaram, o primeiro passo é sempre falar com o pediatra e seguir suas recomendações. Se a decisão conjunta for de fazer a testagem, a próxima etapa é pensar em qual será o procedimento. Veja só as particularidades de cada um deles:
Teste molecular RT-PCR
O que é: Também chamado de swab nasal e orofaringe, o teste consiste na coleta de amostras através de um cotonete que é inserido na garganta e/ou nariz do paciente.
Para que é indicado: Pode ser feito em qualquer idade e é prescrito quando houver uma suspeita clínica ou em alguma situação de maior risco, havendo a necessidade de investigação. É o melhor teste para quando o paciente está infectado, já que possui maior sensibilidade, especificidade e, portanto, maior chance de diagnosticar corretamente. “É aconselhável, por exemplo, quando a criança fica com avós, com pessoas de mais idade ou que têm alguma outra doença”, afirma o infectopediatra Marcelo Otsuka.
Quando fazer: O melhor período para se fazer o exame é a partir do terceiro dia da manifestação de sintoma e vai até entre o sétimo e décimo dia. Mas se a pessoa não apresenta sinais da doença, mas esteve em contato com alguém infectado, a recomendação geral é que realize o teste entre o quinto e oitavo dia após o último contato com a pessoa doente. “No caso de negativo, o ideal é que seja repetido com um intervalo de dois a três dias, para saber se em algum momento torna-se positivo, até completar os catorze dias (que costumam indicar o final da incubação do vírus)”, indica o especialista.
Onde encontrar: O teste é realizado em vários laboratórios particulares e também coberto pela grande maioria de convênios médicos. Além disso, por ser o mais sensível e mais específico para o diagnóstico da doença, é o que costuma ser usado nos hospitais públicos. “Se a criança estiver se sentindo bem, nem é preciso ir ao hospital, pois hoje existem as coletas de drive-thru através dos laboratórios e até as grandes redes de farmácia possuem o serviço”, complementa Flávia Jacqueline Almeida, infectopediatra do Sabará Hospital Infantil.
Em quanto tempo sai o resultado?: Geralmente costuma estar disponível em até 24 a 48 horas. Frente à sobrecarga dos laboratórios públicos neste momento, pode ocorrer atraso de até uma semana para se obter o resultado.
Teste PCR salivar
O que é: Parecido com o PCR, o teste de saliva usa uma metodologia chamada LAMP. Apesar de ser uma alternativa, só funciona para crianças a partir de três anos, aproximadamente, pois é preciso saber cuspir direitinho no pote da coleta.
Para que é indicado: Pela coleta ser mais fácil, o teste pode ser uma alternativa para pessoas que se incomodam muito com o swab. “No entanto, ele tem uma capacidade de detecção do vírus menor em relação ao PCR clássico”, lembra Marcelo.
Quando fazer: No mesmo período indicado para o RT-PCR (entre o terceiro e décimo dia depois de notar algum sintoma ou entre o quinto e oitavo dia após o último contato com alguém infectado).
Onde encontrar: Não é realizado em serviços públicos, apenas no sistema privado, como laboratórios e hospitais particulares.
Em quanto tempo sai o resultado?: Entre 24 a 48 horas depois da realização.
Teste sorológico
O que é: Coleta de sangue que avalia se o paciente desenvolveu anticorpos para a doença.
Para que é indicado: A testagem é recomendada para detectar a presença de anticorpos em quem já teve a doença ou teve contato com o vírus. Ou seja: ele não é indicado para saber se a criança está doente no momento da coleta.
Quando fazer: Para que o resultado seja mais preciso, indica-se que a realização ocorra de 25 a 30 dias após a infecção.
Onde encontrar: Em algumas (poucas) unidades públicas de saúde e nos principais laboratórios particulares.
Em quanto tempo sai o resultado?: Depende do local. Em serviços privados, entre 24 e 48 horas. Já no sistema público, pode demorar entre uma semana e 10 dias para ficarem prontos.
Teste rápido sorológico (não indicado para crianças)
O que é: Coleta parecida com a de testes usados para indicar a glicemia no corpo. Com uma picadinha no dedo, deposita-se uma gota de sangue em uma tira e o resultado é indicado no visor.
Para que é indicado: Para verificar os anticorpos que o organismo produziu quando em contato com aquele vírus, principalmente da classe IgG e IgM. No entanto, o resultado do teste não identifica diretamente a quantidade de vírus no corpo do paciente e existem muitas outras variáveis para cravar o laudo. Entenda mais sobre o funcionamento do exame.“Além disso, ele tem uma sensibilidade e especificidade muito baixa, então de forma geral não recomendamos a realização”, aponta Marcelo.
Onde encontrar: Em algumas farmácias (pode ser necessário agendamento prévio).
Quando fazer: O ideal é fazer o teste rápido depois do décimo dia de contágio, quando a pessoa terá uma quantidade maior de anticorpos na corrente sanguínea e, consequentemente, maior chance de positividade.
3. Como acalmar a criança durante o PCR
O pediatra foi consultado, a decisão foi tomada e o pequeno será testado com o PCR. Para os pais, talvez a próxima etapa seja a mais delicada: acalmar o filho para que a hora da coleta seja mais tranquila. Neste momento, a palavra-chave é diálogo, usando sempre explicações que conversem com o entendimento e idade da criança, sem apavorá-la.
“Todo procedimento realizado em crianças deve ser explicado de forma calma e clara, para que não ocorram sustos. Então, o pai ou a mãe deve explicar que será colocado um cotonete, que será retirado rapidamente e que não será extremamente doloroso. Isso porque a criança muitas vezes fica mais angustiada na insegurança do que vai acontecer do que com o procedimento em si”, recomenda Melissa.
Flávia complementa exemplificando com uma metáfora que costuma a utilizar com os pacientes menores: “Para os que já tem compreensão verbal, digo que o o vírus está lá no fundo do nariz e iremos brincar de caçá-lo”.
4. Vale a pena fazer a sorologia depois?
Mesmo se a criança já teve o PCR positivo, a família pode cair no dilema de se compensa uma checagem com exame de sangue. Claro que esta é uma ferramenta a mais, porém, segundo a médica do Sabará Hospital Infantil, a própria sorologia tem suas limitações e não há necessidade de expor a criança a um novo procedimento.
“Por dois motivos: o primeiro deles é que uma parte das pessoas não faz imunoglobulina (a sorologia não indica positivo), principalmente os pacientes assintomáticos – mas isso não indica que não estão protegidos, pois há também a imunidade celular”, diz Flávia.
“Além disso, devemos lembrar que o contrário é verdadeiro, porque ter um igG positivo no exame não significa estar necessariamente seguro, especialmente nos dias de hoje em que sabemos da presença das novas variantes da covid-19“, conclui.
Fonte: bebe.abril.com.br
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