O Dia Mundial da Saúde é celebrado em 7 de abril para conscientizar as pessoas sobre a importância dos cuidados com a saúde física e mental.
Em tempos de pandemia, a atenção ao bem-estar também precisa ser promovida entre os profissionais dessa área. Por isso, os Estados-membros da Organização das Nações Unidas (ONU) decidiram, por unanimidade, declarar 2021 como o Ano Internacional dos Trabalhadores de Saúde e Cuidados. A decisão é uma forma de reconhecer a dedicação e o sacrifício de milhões de profissionais que atuam na linha de frente do combate à Covid-19.
Uma pesquisa feita pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) aponta que, em um ano de enfrentamento à pandemia, os trabalhadores da saúde estão esgotados. Dos 25 mil entrevistados – entre médicos, enfermeiros, odontólogos, fisioterapeutas, farmacêuticos e outras categoriais da área da Saúde – 50% admitiram excesso de trabalho, com jornadas além das 40 horas semanais. Além disso, 45% afirmaram que precisam de mais de um emprego para sobreviver.
Os dados da pesquisa indicam que 43,2% dos profissionais de saúde não se sentem protegidos no enfrentamento da Covid-19 e o principal motivo – para 23% deles – é a falta e a inadequação do uso de EPIs (equipamentos de proteção individual).
A pesquisa também mostra que 15,8% dos entrevistados relataram perturbação do sono; 13,6% irritabilidade, choro frequente, distúrbios em geral; 11,7% incapacidade de relaxar e estresse; 9,2% dificuldade de concentração ou pensamento lento; 9,1% perda de satisfação na carreira ou na vida, tristeza e apatia; 8,3% sensação negativa do futuro e pensamento suicida; e 8,1% relataram alteração de apetite ou de peso.
Relatos da linha de frente
A enfermeira da Unidade de Pronto Atendimento de Planaltina (GO), Vera Trajano Ribeiro, comenta que a demanda de serviço triplicou.
“Ano passado o nosso público-alvo eram os idosos. Esse ano estamos atendendo grávidas, adultos, crianças. O serviço triplicou. Estamos cansados. Ontem mesmo fui para o enterro do tio do meu esposo. Nunca pensei que fosse ver uma coisa dessa”, relata.
A enfermeira chegou a se contaminar com o coronavírus, mas conseguiu se recuperar.
“Não me prejudiquei tanto quanto o tio do meu esposo, que era tabagista. Perdi 9 quilos e perdi o olfato. Todos os meus colegas tiveram Covid-19. Muitos se salvaram. Muitos deles foram embora. Hoje mesmo um médico que trabalhava comigo aqui na UPA faleceu. E muitos ainda não têm consciência”, relata.
A médica infectologista do Hospital Regional da Asa Norte em Brasília, Joana D’arc Gonçalves, descreve uma sensação de impotência.
“Estamos em um momento complexo. Presenciamos um número alto de pessoas morrendo e nos sentimos impotentes. Já não sabemos para quem gritar, o que falar, aonde ir. Tentamos todos os dias fazer um pouquinho, aquilo que está ao nosso alcance”, comenta.
O gastroenterologista do Hospital Universitário de Brasília, Gabriel Ravazzi dos Santos, diz que a sensação de desgaste físico e emocional começou desde o início da pandemia, quando os profissionais de saúde ainda não sabiam com o que estavam lidando.
Segundo ele, com o surgimento de testes e vacinas contra o coronavírus, a população relaxou em relação às medidas de proteção sanitária, o que levou ao aumento de casos graves, não apenas de idosos e pessoas com comorbidades, mas também de jovens e indivíduos sem doenças pré-existentes.
Para o doutor Gabriel Ravazzi dos Santos, isso sobrecarregou o trabalho dos profissionais de saúde, que são tratados como heróis pela população e pela mídia.
“É comum nos noticiários sermos tratados como heróis. Mas eu acho que nós não somos heróis, porque isso dá a falsa sensação de que somos infalíveis. E todos nós somos seres humanos; temos nossas fraquezas, nossas limitações, estamos cansados. Precisamos da população, nesse momento, do nosso lado. Cada um fazendo a sua parte”, afirma.
Atendimento Psicoterapêutico
Para a psicóloga do Hospital das Clínicas de Porto Alegre, Márcia Ramos, o crescimento da curva de casos da Covid-19 no país, em fevereiro de 2021, tem levado ao aumento da procura por serviços de psicoterapia, tanto por pacientes em geral, quanto por trabalhadores da saúde.
“Existe algumas questões pontuais que trazem esse trabalhador para os atendimentos. Uma delas é a questão do cansaço e do esgotamento físico e mental. A outra é a questão do enlutamento. Muitos estão perdendo pessoas muito próximas a eles.” Segundo ela, os profissionais também relatam medo de levar o vírus para casa e contagiar os familiares.
A psicóloga aponta as principais demandas apresentadas nos consultórios de psicoterapia.
“Ansiedades, dificuldades para conciliar o sono, tristeza, depressão. Todas essas manifestações demonstram a vulnerabilidade do trabalhador, que conta com vários recursos de suporte para se manter trabalhando, mas que – pelo próprio envolvimento afetivo que tem com o trabalho – acaba ficando um pouco mais fragilizado nesse momento”, afirma.
Segundo Márcia Ramos, desde o ano passado, o Hospital das Clínicas de Porto Alegre oferece suporte psicológico individual e coletivo à equipe de trabalhadores da saúde.
Para o médico Gabriel Ravazzi dos Santos, apesar do cansaço, assistir a recuperação de um paciente é gratificante.
“Também temos momentos bons, de felicidade. Quando conseguimos vencer essa doença é gratificante; essa sensação de poder dar alta para um paciente, ver um sorriso no rosto dele, de um familiar, de agradecimento, de reconhecimento do nosso trabalho.”
Fonte: Brasil 61
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