A comemoração da vitória do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) contou com uma provocação a Neymar, notório apoiador do presidente Jair Bolsonaro (PL). O coro de "Ei, Neymar, vai ter que declarar" foi entoado por algumas das pessoas que foram à Avenida Paulista, na noite deste domingo, para celebrar o triunfo do petista nas urnas. O grito faz referência às dívidas do craque da seleção brasileira e do Paris Saint-Germain com a Receita Federal.
Neymar Júnior (REUTERS/Issei Kato) |
Em abril de 2019, o pai do jogador, o empresário Neymar da Silva Santos, foi recebido por Bolsonaro e pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, para "prestar esclarecimentos" sobre um processo contra o jogador no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf). O encontro ocorreu seis dias após o atleta entrar com um recurso no conselho pedindo a anulação de um processo que lhe cobrava multa no valor de R$ 8 milhões.
Horas após a reunião no gabinete do presidente, o pai de Neymar publicou em sua conta no Instagram uma imagem de uma notificação da Receita, de janeiro, informando que a empresa Neymar Sport e Marketing passaria a constar no monitoramento diferenciado da Receita, por estar entre os 10 mil maiores contribuintes do Brasil.
A multa a Neymar foi aplicada pelo Fisco em 2015, mesmo ano em que Justiça Federal determinou o bloqueio de R$ 188,8 milhões do jogador, então no Barcelona, e de empresas ligadas a ele. À época, auditores fiscais da Receita Federal constataram infrações nas declarações do atleta no período de 2011 a 2013. Entre os descumprimentos citados estavam: omissão de rendimentos do trabalho, omissão de rendimentos de fontes do exterior, omissão de rendimentos pagos pelo Barcelona, falta de pagamento de Imposto de Renda e outros.
Em 2017, o Carf, última instância administrativa para recorrer de autuações da Receita, julgou o caso e reduziu de R$ 188 milhões para R$ 8 milhões a dívida do atleta com o Fisco, entendendo que a maior parte das sanções não se aplicava. Vale ressaltar que o bloqueio inicial foi majorado em 150%, porcentual que só pode ser aplicado quando o Fisco entende que houve sonegação, fraude ou conluio. Ainda insatisfeito com a cobrança, Neymar recorreu ao Tribunal Regional Federal (TRF) da 3ª Região, e aguarda o julgamento.
Neymar declarou apoio ao candidato Jair Bolsonaro às vésperas do primeiro turno, quando publicou um vídeo dançando um jingle do presidente em sua conta no Tik Tok. Em entrevista recente ao "Flow Podcast", o então candidato Lula brincou dizendo que ele estaria com medo de vê-lo novamente no cargo porque o Brasil "vai saber que o Bolsonaro perdoou a dívida de Imposto de Renda dele".
"Obviamente, o Bolsonaro fez um acordo com o pai dele. Ele até está com um problema na Espanha. Mas isso não é problema do presidente, é da Receita Federal", disse o petista.
DERROTA DE BOLSONARO E MANCHETES INTERNACIONAIS
A derrota de Bolsonaro nas urnas no domingo fez Neymar ganhar destaque na imprensa internacional. Jornais da França e da Espanha repercutiram a provocação ao jogador na comemoração na Avenida Paulista. O site francês Sport.fr classificou a vitória de Lula como "terrível derrota" para o jogador do PSG.
"Este não é o resultado que Neymar esperava. Nas últimas semanas de uma campanha muito dura, o capitão da seleção brasileira não escondeu seu apoio a Bolsonaro, o que lhe rendeu várias críticas", escreveu o periódico.
O diário espanhol As lembrou que o camisa 10 do Brasil prometeu ao presidente Bolsonaro dedicar a ele o seu primeiro gol na Copa do Mundo do Catar. A promessa aconteceu durante a participação do atleta do PSG durante uma live com o próprio Bolsonaro, que buscava conquistar o voto dos mais jovens, a poucos dias do segundo turno das eleições.
"VITÓRIA" EM TRIBUNAL NA ESPANHA
Apesar dos problemas fiscais no Brasil que a família do jogador terá de resolver ou pagar, Neymar obteve "vitória" em um tribunal fora do País na última sexta-feira. A Promotoria da Espanha retirou todas as acusações contra o brasileiro em um processo que investigava corrupção e fraude na transferência do jogador do Santos para o Barcelona, em 2013. O craque era alvo de um pedido de dois anos de prisão e de multa no valor de 10 milhões de euros (cerca de R$ 52 milhões). A decisão também se estende aos demais réus do caso, entre eles, o pai do craque.
O Grupo DIS detinha 40% dos direitos econômicos do atleta na época em que ele deixou o Santos rumo ao Barcelona, em 2013. A venda foi anunciada por 17,1 milhões de euros (R$ 88,7 milhões, pelo câmbio atual) e a empresa recebeu uma fatia de 6,84 milhões de euros. Depois disso, o Barcelona informou que o valor real da transação foi de 57 milhões de euros, e a diferença de quase 40 milhões de euros foi depositada para a empresa N&N, em nome dos pais do atleta.
Em seu depoimento, o jogador de 30 anos reiterou as decisões do seu pai e empresário. "Meu pai sempre cuidou das negociações de contrato. Eu assino o que ele pede", disse o craque, de 30 anos. "Meu pai sempre cuidou de tudo isso, sempre foi o responsável por isso."
CATAR
Neymar terá seu nome confirmado por Tite no dia 7 de novembro como um dos 26 jogadores que defenderão o Brasil na Copa do Mundo do Catar. Será sua terceira Copa. Na primeira, em 2014, no Brasil, ele se machucou na partida contra a Colômbia e ficou fora da semifinal diante da Alemanha, na derrota de 7 a 1.
Em 2018, a seleção foi eliminada pela Bélgica, em derrota por 2 a 1, nas quartas de final. Neymar fez uma Copa ruim e virou meme entre a criançada pelo seu "cai cai" em campo. Seu estafe teve de retrabalhar sua imagem. Agora, ele parece mais concentrado no PSG.
Fonte: gauchazh.clicrbs.com.br
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